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Henry Evaristo lança seu primeiro livro: UM SALTO NA ESCURIDÃO

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segunda-feira, 21 de julho de 2008

ALIEN HUNT - CONTATO ALIENÍGENA

Me parece que a geração hippie, que vivia afogada na angustia de ter que lutar pelo estabelecimento de uma liberdade até então apenas sonhada e teorizada em todos os sentidos, tinha mais coragem de fazer acontecer do que esta nossa geração de hoje que tem tudo e não sabe o que fazer com o que tem. Digo isso por que revendo filmes como Alien, o oitavo passageiro e O Enigma do Outro Mundo tenho a impressão de que os diretores, roteiristas e produtores de filmes de terror e sci-fi perderam a ousadia. De outra forma como seria possível que um filme de 1979 contivesse cenas tão impactantes que jamais fossem superadas nem mesmo pela força de nossa revolução tecnológica? O cinema atual tem simplesmente TODAS as possibilidades para fazer O QUE QUISER mas...não faz! Ah, se Ridley Scott, nos anos 70, ao menos sonhasse em ter em suas mãos as possibilidades que hojem existem com o cinema digital. E mesmo assim, seu filme é ainda neste momento o principal, o maior, e o melhor e mais importante filme de alienígenas de todos os tempos (com todo respeito ao ET e ao CONTATOS IMEDIATOS do Spielberg, é claro!).

Ao longo destas últimas décadas alguns trabalhos surgiram e despontaram como provaveis sucessores de Alien porém, TODOS morreram na praia; afogados num mar de roteiros mal elaborados e insalubres e em produções de extremo mal gosto e má-vontade.

Recentemente o filme SINAIS ensaiou um retorno ao antigo sub-gênero terror+suspense+ficção, porém ocorre que a obra de Shyamalan é apenas uma em meio à miríade de outros títulos vergonhosos e, assim, não teve forças para encabeçar uma retomada aos bons dias do tema.

Não creio que citar ARQUIVO X seja pertinente pois estamos falando sobre cinema e não televisão e estamos considerando que a primeira experiência da turma de Chris Carter na telona foi uma atroz decepção.

Este CONTATO ALIENÍGENA chegou em nossas mãos com a promessa de ser um novo Alien. E foi com grande ansiedade que nos recostamos à cadeira do papai para degustá-lo.

Vejam o que dizem dele por aí:

Para uma equipe de pesquisa da Nasa localizada em uma remota parte da Antártica é um dia normal de trabalho até que o satélite capta um misterioso sinal vindo de um estranho objeto que está há vários metros abaixo da camada de gelo. Suspeitando que este objeto não seja da terra, o cientista chefe imediatamente entra em contato com Julian Rome (James Spader), um velho amigo que costumava trabalhar para uma facção do governo americano que busca inteligência extraterrestre. Embarcando no próximo vôo para o pólo sul, este aposentado "caçador de alienígenas" é levado diante do objeto não identificado que está envolto em gelo. Após construir um decodificador, Rome rapidamente decifra o complexo código matemático e descobre que a mensagem é um alerta extraterrestre. Agora é uma assustadora corrida contra o tempo para prevenir a total aniquilação do planeta neste eletrizante thriller de ficção científica.




Bem, tenho que dizer que, apesar de estar um pouco acima da média, Alien Hunt está anos luz de Alien - mesmo em se tratando de qualquer um da franquia!

Ocorre que a direção do filme parece não entender nada de filmes de ficção-científica ou mesmo de filmes com efeitos especiais, ou ainda, de filmes bons dos anos 70/80. A utilização de efeitos em CG é uma desgraça! O surgimento do monstro ocorre em meio a um festival de luzes que mais se assemelha a uma comemoração de natal, um show pirotécnico qualquer...

Até este ponto, tudo certo, afinal são os novos tempos! Mas quando até as mortes do pessoal da equipe do laboratório começam a ocorrer com uso de efeitos de computador ai não dá mais! Chego a pensar que a turma que faz estes filmes anda com preguiça de trabalhar!

Resumindo: Alien Hunt não é um filme ruim de todo. Tem momentos de tensão que funcionam e um et até legalzinho. Mas se visto à luz dos clássicos, se revela somente mais uma grande decepção.
Ah, tem um ponto curioso: se vc assistiu "2001 - UMA ODISSÉIA NO ESPAÇO", e quer saber como está o ator Keir Dullea hoje em dia, ele também está em Alien Hunt. Tente encontrá-lo por lá e volte aqui para nos contar como foi a experiência.



FICHA TÉCNICA



(Alien Hunter, Estados Unidos, 2003). 92 minutos


Direção: Ron KraussRoteiro: J. S. Cardone, a partir de história de J. S. Cardone e Boaz Davidson

Produção: Scott Einbinder e Carol Kottenbrook

Produção Executiva: Avi Lerner

Fotografia: Darko Suvak

Música: Tim JonesEdição: Amanda I. Kirpaul

Efeitos Especiais: Willie Botha e Brian Wade

Efeitos Visuais: Simeon Asenov


Elenco:


James Spader (Prof. Julian Rome), Janine Eser (Dra. Katherine Brecher), John Lynch (Dr. Michael Straub), Nikolai Binev (Dr. Alexi Gierach), Leslie Stefanson (Nyla Olson), Aimee Graham (Shelly Klein), Stuart Charno (Abell), Carl Lewis (Grisham), Svetla Vasileva (Dacia Petrov), Roy Dotrice (Dr. John Bachman), Bert Emmett (Gordon Osler), Velimer Velev (Alienígena), Anthony Crivello, Kaloian Vodenichrov, George Stanchev, Rufus Dorsev, Woody Schultz, Keir Dullea.

segunda-feira, 14 de julho de 2008

O ENIGMA DO HORIZONTE

O estilo de filme que mistura terror, horror e ficção científica teve seu ponto alto em ALIEN de Ridley Scott de 1979. De lá pra cá muitos filmes surgiram com resultados acima e abaixo da média. Event Horizon, com certeza é um filme bem melhor do que a maioria dos que tentaram explorar este filão. A crítica o massacrou, e até certo ponto com razão, mas, mesmo assim, nós aqui do Império do Medo entendemos que o filme é uma obra que vale a pena ser vista se não por sua irretocabilidade, ao menos por ter sido realizada com um nível de qualidade num período em que o cinema fantástico estava em baixa no mundo todo. Sendo assim, concordamos com a crítica especializada mas concordamos também com a opinião de Felipe Guerra que escreve o artigo que segue:




O ENIGMA DO HORIZONTE
(Event Horizon)

Por Felipe M. Guerra


Nave de busca e salvamento tem que viajar a Netuno para descobrir o que aconteceu com a nave experimental Event Horizon. No local, a tripulação começa a sofrer alucinações e decide retornar à Terra, mas é ameaçada pelo enlouquecido Dr. Weir.

CRÍTICA

Desde que assisti "Alien, O Oitavo Passageiro" pela primeira vez, lá nos anos 80, que um filme de ficção científica/horror não me deixa tão assustado. Mas este "O Enigma do Horizonte" (Event Horizon, 1997) é uma ótima surpresa, um filme realmente extraordinário que consegue criar um clima de terror sério e pesado, sem humor ou brincadeirinhas bobas.

Não bastasse tudo isso, ainda é incrivelmente sádico, com algumas das cenas de violência e morte mais impressionantes filmadas nos últimos anos (como se o Clive Barker de "Hellraiser 1" tivesse feito o filme junto com o Ridley Scott, de "Alien"). Logo, pelo menos na minha modesta opinião, "O Enigma do Horizonte" é um dos grandes filmes de terror do cinema moderno, e não ligo para o que a crítica pensa sobre ele.

A trama, por si só, já é bem misteriosa: "Event Horizon" é o nome de uma nave que sumiu há sete anos, depois de entrar em um buraco negro artificialmente produzido com o objetivo de tornar as viagens espaciais mais rápidas. Seu criador, o dr. Weir (Sam Neil, assustador), acredita que ela possa ter ido parar em uma outra dimensão, mas sete anos depois recebe uma transmissão de rádio pedindo ajuda, e enviada pela própria "Event Horizon" - trata-se de uma gravação assustadora onde só se escutam gritos e uma enigmática frase em latim, que quando decifrada vai revelar parte do mistério em torno da nave.

O envio da mensagem motiva o dr. Weir a organizar uma expedição de resgate, liderada por Lawrence Fishburne e com outros seis tripulantes. Uma vez na "Event Horizon", agora transformada em nave-fantasma, os astronautas tentam descobrir o que aconteceu, mas são bombardeados por alucinações macabras que os induzem à morte e ao suicídio.

O tempo inteiro o filme deixa o espectador intrigado com a tal "outra dimensão" onde a "Event Horizon" foi parar. Nunca se chega a uma conclusão e o tal lugar nem é mostrado (felizmente, pois deixa espaço para a imaginação de quem assiste), mas tudo leva a crer que é o próprio inferno. A certa altura, os astronautas passam a acreditar que a nave possa estar "mal assombrada", e que criou vida própria para destruir os intrusos.

Não tem como não ficar arrepiado com a cena onde, por meio de imagens gravadas pelo diário de bordo da nave, a equipe de resgate descobre o que aconteceu com os astronautas da "Event Horizon" - uma verdadeira orgia sangrenta e brutal. Outra seqüência bem forte é no finalzinho, quando Fishburne tem uma visão de seus amigos sendo dilacerados por ferros, arame farpado e ganchos. A cena é mostrada rapidamente, com uma edição digna de pesadelo (no estilo videoclip); mas se você passar em câmera lenta vai ver o maior festival de barbaridades dos últimos anos (pessoas empaladas e por aí vai).

O filme não poupa em sangue e sustos, tornando sua apreciação mais adequada aos adoradores do gênero, e puxando mais para o terror do que para a ficção científica, no final.

Outra curiosidade: o roteiro subverte a ordem convencional das mortes - aqueles que pensamos serem os heróis da trama também acabam morrendo - , e se torna praticamente imprevisível descobrir aqueles que vão conseguir escapar com vida da nave.

Um divertimento de primeira, assustador, tétrico e bizarro como o cinema de horror deixou de ser há muito tempo, com seus "Pânicos" e "Lendas Urbanas".




FICHA TÉCNICA

ANO DE LANÇAMENTO
1997 (Inglaterra/EUA)
DIRETOR
Paul W.S. Anderson
ELENCO
Laurence FishburneSam NeillKathleen QuinlanJoely RichardsonRichard T. JonesJack NoseworthyJason Isaacs
ROTEIRO
Philip Eisner
TRAILER
clique aqui
SITE OFICIAL
clique aqui
ESTRÉIA NOS EUA:
15 de agosto de 1997
DISTRIBUIDORA:
CIC

domingo, 13 de julho de 2008

FANTASMAS de Dean Koontz


Fantasmas
Resenha de Luiz Poleto


Dean R. Koontz é considerado um dos mestres do terror e do suspense, embora seus livros atuais estejam mais voltados para dramas psicológicos do que para o gênero que o consagrou no passado, o que é uma pena.


Fantasmas começa com Jenny e sua irmã voltando para casa, na pacata cidade de Snowfield, após a morte de sua mãe. Ao chegarem na cidade, as coisas parecem um pouco diferente; a cidade encontra-se mais deserta do que o habitual. Após encontrarem a caseira de Jenny morta – olhos arregalados de terror, a boca paralisada em um grito, a carne negra e empolada – elas partem pela pequena cidade em busca de ajuda; não demora para que elas percebam que a cidade está totalmente vazia. As pessoas que encontram estão mortas, da mesma forma que Hilda, a caseira.


A partir daí, a trama segue de maneira que é difícil largar o livro de lado. A curiosidade para saber o que de fato acontece na cidade aliado ao sentimento de que algo as observa nas sombras é envolvente. Koontz mostra que sabe conduzir o leitor de acordo com sua vontade.


Koontz diz que, quando escreve, preocupa-se mais com os personagens do que com qualquer outra coisa, e isso é facilmente percebido no decorrer da história: os personagens são bem marcantes, possuem traços psicológicos bem definidos e é difícil não encantar-se com eles.


Ao contrário do que muitos dizem sobre a conclusão do livro, eu gostei bastante da explicação, embora a cena final pudesse ter sido um pouco melhor.


Não é um livro indispensável, mas com certeza é um livro que vale a pena ler.

Ficha Técnica:
Dean R. Koontz, 1983
Título Original: Phantoms
Editora Record



Escrito em 12 de Junho de 2008

FRANKENSTEIN - Resenha de Celly Borges



Frankenstein – Mary Shelley

Resenha de Celly Borges



Editora: Martin Claret
Tradução de Pietro Nassetti
Título Original: Frankenstein or the Modern Prometheus
N° Páginas: 208

Victor Frankenstein, universitário, desafiou a ética, “Coletava ossos dos necrotérios e profanava, com os dedos, os recônditos do corpo humano”, e as leis da Natureza, ao dar vida ao que ele próprio, depois de horrorizado por seu intento, denominou Monstro.

O criador fugiu da criatura, que se viu obrigada a vagar sem destino e começou a cometer atrocidades em nome da indiferença de Frankenstein.

E o que não se poderia cogitar era que o Monstro possuía, sim, sentimentos. Depois de reencontrar Frankenstein exigiu a ele que criasse uma companheira e assim poderia viver com um ser igual e deixaria todos em paz. Victor concordou, porém logo depois desistiu da promessa e o Monstro voltou a atacar.



Tudo começou quando Lord Byron propôs a três amigos que cada um escrevesse um conto de fantasmas.

E Mary Shelley assim concebeu, em 1818, uma das maiores histórias de horror.

domingo, 6 de julho de 2008

GRITO DE HORROR



GRITO DE HORROR
(The Howling, EUA-1981)




Quando se fala em Joe Dante geralmente não ocorre nenhuma lembrança imediata na maioria das pessoas. Porém, com algum esforço, vão se formando imagens na mente: uma enorme piranha saltando do rio para morder o nariz de um pescador; uma repórter se transformando em lobisomem, diante das câmeras de TV; um homem apavorado tirando um coelho monstruoso de uma cartola; um cinema abarrotado de pequenos duendes verdes deliciando-se com “Branca de Neve e os Sete Anões”. Após um saudoso sorriso, vem a dúvida: pelo menos estes dois últimos não são filmes de Steven Spielberg? Não. O ex-menino-prodígio de Hollywood apenas os produziu. Todo o mérito de criação e direção pertence a um dos mais brilhantes cineastas de sua turma: o norte-americano Joe Dante.

Cinéfilo de carteirinha, Dante cresceu fascinado por clássicos de terror e ficção científica dos anos 50 como “It Came From Outer Space”, revistas em quadrinhos, desenhos e seriados de TV (entre eles o “Além da Imaginação” de Rod Serling). Na juventude, enquanto cursava a Philadelphia College of Art e sonhava em ser cartunista, ele colaborava com textos para as revistas “Castle of Frankenstein” e “Film Bulletin”. Logo em seguida foi chamado para ser editor da New World Pictures, do mestre do cinema B Roger Corman. Foi um dos protegidos de Corman, tendo se notabilizado na edição dos trailers de grandes filmes europeus como “Amarcord” de Fellini e “Morangos Silvestres” de Bergman, entre outros.


Após um filme em co-direção e sua estréia solo em “Piranha” (o único subproduto de “Tubarão” elogiado com entusiasmo por Spielberg), Joe Dante saiu da New World e recorreu a uma pequena produtora, a AVCO Embassy Pictures, para fazer seu filme seguinte, “Grito de Horror”, uma história de lobisomem nada convencional, com um inventivo roteiro de John Sayles (o mesmo de “Piranha” e de “Alligator” de Lewis Teague), baseado no romance homônimo de Gary Brandner.



A repórter televisiva Karen White (Dee Wallace, a mãe de Elliot em “E.T.”) investiga o paradeiro de um brutal assassino sexual, Eddie Quist (Robert Picardo, figurinha fácil em todos os filmes de Dante e mais conhecido hoje por séries como “Anos Incríveis”, “Star Trek: Voyager” e “Stargate”), que só ataca mulheres em noites de lua cheia. Karen o encontra num peep-show e descobre que Eddie na verdade é um lobisomem. Ela é salva na última hora pela polícia porém o choque a deixa com amnésia parcial. A repórter tira licença da emissora e seu médico, o Dr. George Waggner (Patrick Macnee), a manda para a sua colônia de repouso, enquanto ela tenta se lembrar o que lhe causou tanto pavor. Acontece que em seu livro “O Dom” o Dr. Waggner defende a tese de que todos temos um animal selvagem dentro de nós e que devemos aprender a controlá-lo. Tese que ele tenta transpor na prática em sua colônia afastada da civilização, e que está cheia de... bem, vocês sabem o que.



Trabalhando dentro do universo dos filmes de lobisomem, Joe Dante manipula de todas as formas os mais díspares ícones e elementos deste subgênero do cinema de horror. A começar de uma singularidade: nove dos personagens secundários de “Grito de Horror” levam os nomes de cineastas que realizaram os mais clássicos filmes de lobisomem da história (George Waggner, Erle Kenton, Sam Newfield, Freddie Francis, etc.). O próprio “O Lobisomen” (“The Wolfman”, 1941) da Universal com Lon Chaney Jr. surge numa TV para lembrar que “a pessoa que é mordida por um lobisomem e vive também se torna um lobisomem”, quando o marido da repórter é atacado.

De olho nas origens de sua arte, Joe Dante pendura no consultório do médico de Karen uma reprodução da famosa gravura de Edward Munch, “O Grito”, um dos emblemas do movimento expressionista alemão, um dos principais “pais” do cinema de horror. Ele também coloca figuras simbólicas do gênero em “Grito de Horror” como Forrest J. Ackerman – o editor da mais importante revista americana sobre cinema fantástico dos anos 60 e 70, “Famous Monsters of the Filmland” – folheando um baralho de tarô numa livraria, e o seu mentor-mor, o diretor e produtor Roger Corman, na fila de uma cabine telefônica. Além disso, Dante tem sempre alguns atores na manga que aparecem em quase todos os seus filmes, quer seja em papéis importantes ou como coadjuvantes de luxo, como Dick Miller, Kevin McCarthy, Kenneth Tobey, John Carradine, Slim Pickens, William Schallert, Keenan Wynn, Harry Carey Jr., Keye Luke (a maioria veteranos de clássicos do horror e da ficção científica de décadas anteriores e ídolos do diretor) e Robert Picardo (que já foi lobisomem, alienígena, executivo, lixeiro e contrabandista em seus filmes).


Além de tudo isso, Joe Dante é um dos cineastas modernos que mais faz citações a outros filmes, desenhos e seriados em sua obra, direta ou indiretamente. Aqui ele satiriza o próprio gênero numa das seqüências mais marcantes do filme: enquanto a repórter Terry (Belinda Balaski) é atacada pelo gigantesco lobisomem Eddie Quist, seu marido Chris assiste na TV ao desenho animado “Quem Tem Medo do Lobo Mau”, de Walt Disney. E tudo é mostrado em montagem paralela. Ironia e humor negro pra ninguém botar defeito.


O que há para se lamentar é que “Grito de Horror” foi feito e lançado no mesmo ano que o já célebre “Um Lobisomem Americano em Londres” de John Landis. O filme de Landis abocanhou o Oscar de efeitos especiais pela cena da metamorfose licantrópica (criada por Rick Baker, que também foi consultor de efeitos de maquiagem no filme de Dante) e definitivamente ofuscou “Grito de Horror”, que hoje em dia parece ser apenas conhecido pelos aficcionados do gênero. Uma pena porque ambos são excelentes filmes, cada um à sua maneira (enquanto o filme de Landis mistura comédia e terror na medida certa, o filme de Dante se assume totalmente como um filme de horror, apesar das altas doses de humor negro). E num subgênero tão carente de obras brilhantes, como é o de filmes de lobisomens (ao contrário dos filmes de vampiros, por exemplo), o biscoito fino de Joe Dante merecia muito mais destaque entre o grande público, da mesma forma que o filme de John Landis mereceu.







FICHA TÉCNICA



Direção: Joe Dante



Roteiro: John Sayles e Terence H. Winkless, baseado no romance de Gary Brandner



Produção: Michael Finell, Jack Conrad, Daniel H. Blatt, Steven A. Lane / AVCO Embassy Pictures / International Film Investors



Fotografia: John Hora



Montagem: Mark Goldblatt e Joe Dante



Música: Pinno Donaggio



Direção de arte: Robert A. Burns



Efeitos especiais: Roger George



Efeitos especiais de maquiagem: Rob Bottin, Rick Baker



Elenco: Dee Wallace, Patrick Macnee, Dennis Dugan, Belinda Balaski, Christopher Stone, Robert Picardo, Kevin McCarthy, John Carradine, Slim Pickens, Elisabeth Brooks, Don McLeod, Dick Miller, Margie Impert, Kenneth Tobey, John Sayles, Roger Corman, Forrest J. Ackerman

FONTE: site Valise de Cronópio

sábado, 5 de julho de 2008

INCUBUS (1966)


INCUBUS


Um filme pode tornar-se objeto de culto por várias razões, entre elas a presença de um ator famoso em início de carreira, o uso de algum recurso estranho, um tema paradigmático, ou acontecimentos misteriosos por trás das câmaras. Incubus (EUA, 1965), escrito e dirigido por Leslie Steven, preenche todos estes requisitos.


O ator famoso em início de carreira é William Shatner, um ano antes de se transformar no capitão James T. Kirk da série Star Trek. Shatner já havia aparecido em um par de papéis importantes no cinema, como Alexi Karamazov em The Brothers Karamazov (EUA, 1958), do Richard Brooks, ao lado de Yul Brynner e Lee J. Cobb, e como capitão Byers em Judgment at Nuremberg (EUA, 1961), do Stanley Kramer, ao lado de um elenco monumental que incluiu Spencer Tracy, Burt Lancaster, Richard Widmark, Marlene Dietrich, Maximilian Schell, Judy Garland e Montgomery Clift.



O recurso estranho é o idioma usado nos diálogos, o esperanto. Criado por L.L. Zamenhof no final do século XIX, o esperanto tinha por objetivo se tornar uma linguagem internacional, funcionando como segunda língua para pessoas de qualquer nacionalidade. Apesar de isto nunca ter acontecido, acredita-se que cerca de dois milhões de pessoas sejam fluentes em esperanto hoje. Incubus foi o segundo filme a ser produzido completamente em esperanto, um ano após Angoroj ter sido dirigido por Atelier Mahé na França. A sonoridade estranha dos diálogos funciona em perfeita comunhão com a fotografia em preto e branco e os cenários bucólicos da aldeia quase em ruínas.



O tema paradigmático é nada menos que a luta do bem contra o mal. Um súcubo (Allyson Ames), espírito feminino especializado em seduzir homens, resolve que levar pecadores à perdição já não é suficiente e decide tentar desencaminhar um homem virtuoso. O escolhido é Marc (William Shatner), corajoso e bondoso veterano de guerra. Quando as coisas não correm como planejado, sua irmã (Eloise Hardt) invoca a presença de um íncubo (Milos Milos), espírito masculino especializado em seduzir mulheres, para conquistar a irmã de Marc (Ann Atmar), dando início a uma batalha pelas almas dos mortais.



Os acontecimentos misteriosos por trás das câmaras foram vários. Apesar de alguns dos envolvidos terem obtido sucesso profissional imediatamente após o lançamento de Incubus, como William Shatner sendo escolhido para o papel de capitão da Enterprise (que marcaria sua carreira na televisão e no cinema) ou o diretor de fotografia Conrad L. Hall recebendo sua primeira indicação para o Oscar (ele foi indicado em 1966, 1967, 1968, finalmente recebeu a estatueta em 1970 por Butch Cassidy and the Sundance Kid, foi indicado mais meia dúzia de vezes depois disso e acumulou três Oscars, os outros dois por American Beauty e Road to Perdition), nem todos tiveram a mesma sorte. Em 1966, Ann Atmar suicidou-se. No mesmo ano, Milos Milos assassinou sua namorada, Barbara Ann Thompson Rooney (esposa do ator Mickey Rooney), e em seguida suicidou-se. Mais tarde, a filha de Eloise Hardt foi raptada e assassinada. A empresa que produziu Incubus faliu pouco depois da estréia em San Francisco, onde estiveram presentes Roman Polanski (que depois fugiria dos EUA acusado de ter relações sexuais com uma menor de idade) e Sharon Tate (que seria assassinada pela família Manson juntamente com outras vítimas). Os negativos originais e todas as cópias restantes de Incubus acabaram se perdendo, e somente em 1996 foi descoberta uma cópia na Cinémathéque Française em Paris, a partir da qual foi criada a versão restaurada disponível hoje em vhs e dvd.



Ao assistir Incubus, tente esquecer que o protagonista se transformou no capitão da Enterprise ou que parte do elenco morreu de forma trágica. Em vez disso concentre-se na sonoridade transgeográfica dos diálogos e no universo surreal que parece uma mistura de Bergman (com loiras elegantes andando pela praia), Raimi (com seres do além saindo da sepultura), Polanski (com cenas violentas de estupro) e Buñuel (com imagens oníricas como o bode na igreja).






FICHA TÉCNICA
Incubus (EUA, 1966)
Elenco:
William Shatner, Allysion Ames, Eloise Hardt, Robert Fortier
Diretor:
Leslie Stevens

POSSESSÃO


POSSESSÃO

(Possession, 1981)


“Possessão” é dirigido por um polonês, falado em inglês e protagonizado por uma francesa. Os diálogos são estranhos, como uma tradução de um original perdido, criando um sentimento de ‘fora de lugar’, que se estende aos atores e às próprias cenas. Este fora do lugar é antes de mais nada onde encontra-se o próprio diretor Andrzej Zulawski, exilado na França e filmando na Alemanha, com seus filmes confiscados pelo Estado Polonês e sua obra banida de sua terra natal. As primeiras imagens do filme são do Muro de Berlin, encadeando blocos cinzentos de concreto e uma cruz em homenagem a uma vítima. Está instaurada a cena onde atuam os personagens. Da janela do automóvel em movimento, o travelling avista uma frase pichada contra o muro – “O muro deve ser derrubado”. O carro percorre ruas desérticas. A câmera assombra Anna (Isabelle Adjani), como um agouro, pelos caminhos do conjunto habitacional até encontrar Mark (Sam Neill), que salta do carro trazendo suas malas. Estabelece-se o conflito entre os personagens, e a atuação dos atores será sempre suprareal, como se estivessem sob um transe – a Berlin que os abriga é uma cidade em transe. Ele pousa as mala. Ergue as malas, num gesto teatral, coreografado. Câmera e personagens constroem um ballet de gestos e movimento que será uma constante ao longo do filme. A menção da palavra ‘zoo’ choca Anna, que sai desesperadamente. Este desespero evolui em espiral dentro do filme, predominantemente filmado com grandes angulares.







O espaço da ação é um espaço mental, distorcido, dilatado, não é à toa que a grande angular domina o filme, distorcendo a realidade.Mas como diz a própria Anna – não se trata de tão somente distorcer a realidade, mas de atravessá-la; e encontrar o que não é humano, o que é divino, além da loucura e do câncer, para continuar com as palavras de Anna. Dentro do apartamento dilatado pela lente e a construção do cenário, Anna à esquerda, na cozinha, Mark à direita na porta do banheiro, as malas no ângulo, faz-se uma relação perpendicular, cria-se a impossibilidade de os dois estarem no mesmo plano. Bob, o filho pequeno do casal, é o ponto capaz de unir os dois. Na discussão no Café Einstein mais uma vez os personagens são posicionados em ângulo, e não no mesmo plano, como se fossem retas que se atravessassem. A separação dos dois não é possível, assim como o Muro. Berlim pesa e ecoa no filme. A música dominante dá um sentido crônico, para além do cronológico, e envolve os acontecimentos apagando as relações causais de encadeamento, criando um torvelinho, uma neurose, onde perde-se a noção de tempo e o espaço é dado sempre pela presença do Muro, que se vê tanto da janela do apartamento de Mark como da do novo apartamento de Anna. A câmera a 90º passeia sobre os corpos nus dos dois, homem e mulher, oferecendo uma visão divina, um olho de Deus. Também quando Mark surta no quarto de hotel a câmera assume este ponto de vista vertical, do ser, que paira sobre os entes. O contra plano é quando Anna suplica diante da cruz, na Igreja, como Jeanne d’Arc, a câmera por trás do corpo do Redentor. A imagem do Redentor é evocada também quando Mark despe o filho e levanta delicadamente seus braços, parando para admirá-lo. Esta mesma imagem será repetida com Anna no lugar de Bob, ao som de ruídos de passos ecoando por um corredor. O eco dos passos é o eco das imagens análogas - anterior em que o filho tem os braços e erguidos; e posterior, onde Anna irá despir Mark - santíssima trindade de mártires.

Anna chega em casa sempre com sacolas de compras; uma histeria com as compras e a função “do lar”. Mais uma vez a representação vidrada, os atores “possuídos”, fantasmagóricos, hipnotizados, em choque. E as bolsas tornam-se mais do que um objeto de cena, elas são ícones da patologia feminina do supermercado, que vai num crescendo, comprar comida, preparar comida, o vestido sujo e desabotoado, como ela mesmo diz “representando papéis, dividida”, até chegar ao estágio em que ela guarda as roupas na geladeira, como um autômato com defeito. Os cenários são espaço vazios, amorfos, que perdem suas coordenadas euclidianas; os personagens perdem o senso de direção; Anna diz que irá “Downtown”, mas o que significa esta expressão na cidade dividida? Toda conversação é esquizofrênica. Heinrich, o amante de Anna, também é tomado pela esquizofrenia e deixa na porta da casa de Mark um rolo de filme. E é no filme dentro do filme, metacinema que explicita a metafísica, que Anna discorre sobre a dualidade entre fé e acaso. Duas irmãs, lutando uma a outra a outra. Heinrich encara Mark: “Não há nada a temer a não ser Deus.”“Deus é uma doença”: responde Mark. Se Deus é uma doença, como na visão de Nietzsche do Cristianismo, entregar-se a Deus é adoecer, e é isto que acontece à Anna que suplica diante da cruz, antes de ter uma crise com espasmos e vômito na estação de metrô, num plano-sequência magistral. O filme tem tons azuláceos, roxo, cinzento, salpicado de vermelho, geléia de morango com a qual o pequeno Bob se lambuza, prenúncio do sangue de Anna e Mark. A própria imagem não tem um aspecto saudável, se pode dizer que está também doente. A câmera, muitas vezes autônoma, move-se como uma doença, reunindo pathos e orgânico, arrasta-se sobre os personagens. Esta percepção plástica da loucura, que alia perspectiva, perpendicularidade, e grandes angulares, tende ao bizarro, à maneira do mal estar gerado por Polanski em ‘Le Locataire’ e ‘Repulsion’ – Anna, como Carol, é capaz de matar. O sobrenatural é tratado, como na tradição que vai do expressionismo alemão a David Lynch, através da figura do duplo. A professora primária de Bob é um duplo de Anna, e também interpretada por Isabelle Adajani, mas com lentes que tornam seus olhos ainda mais claros. O duplo de Mark também terá olhos diferentes, mais escuros. Se o olho é a janela da alma, uma mudança de olho é uma alma alterada, faustiana. O duplo, o outro, é o avesso, é o sinistro, que faz adoecer e assume o seu posto, usurpa o seu lugar, e esta substituição termina ao som de bombas e ao preço do suicídio do filho. ‘Possessão’, muitas vezes classificado como um filme de horror, é uma obra extremamente política, onde o horror é a opressão totalitária, do Estado, de Deus, do Absoluto. Realizado com um rigor raro no cinema desta ou daquela época, é um filme que atravessou muito bem o tempo, e segue atualizando seus significados. Vale a pena rever.





















FICHA TÉCNICA


Titulo Original: Possession

País: França


Gênero: Terror/Arte

Diretor: Andrzej Zulawski
Elenco: Isabelle Adjani, Sam Neill, Heinz Bennent, Margit Carstensen, Michael Hogben
Ano: 1981
Duração: 123 min

terça-feira, 1 de julho de 2008

BUICK 8 - De Stephen King



Buick 8
De Stephen King
Por Luiz Poleto





Stephen King é conhecido mundialmente como o mestre do terror, e não sem motivo. Sua capacidade de criar histórias interessantes a partir de situações corriqueiras é espantosa. Assim como é espantosa a forma com que ele cria a rotina de seus personagens sem tornar-se enfadonho.



Buick 8 foi o segundo livro de King que li, ainda assim, 9 anos após ter lido o primeiro (que foi Cemitério). Cheguei na livraria procurando o livro “Saco de Ossos”, que, felizmente, não tinha. Digo felizmente pois, decidido a levar um livro de King, pus-me a escolher outro título; dentre os que lá estavam (e as opções não eram muitas), Buick 8 foi o livro cuja sinopse mais me chamou a atenção (embora não tenha despertado aquela vontade de comprá-lo).



A idéia do livro é aparentemente simples: Em 1979, Curtis Wilcox e Ennis Rafferty atendem a um chamado em um posto de gasolina; um cliente parou para abastecer, dirigiu-se ao banheiro e nunca mais foi visto. Os dois então levam o carro para a delegacia, aonde fica guardado no sombrio galpão B. Mas, aquilo não era um simples carro. Capaz de recuperar-se sozinho de avarias, um motor potente que não funciona, e algo que faz com que o cão mascote da delegacia divida-se entre fascínio e medo, aquele sinistro Buick desperta a curiosidade dos policiais do departamento, que durante anos tentam desvendar seus segredos. Curtis é o mais empenhado em estudar o carro, e, quando algum tempo depois um dos policiais some misteriosamente, eles percebem que aquele carro pode ser um enigma muito mais perigoso do que imaginavam.



Em 2001, pouco depois de Curtis morrer em um fatal acidente durante o trabalho, seu filho Ned, de 18 anos, passa a freqüentar o departamento, disposto a cortar a grama, limpar janelas, ou qualquer outra coisa que possa mantê-lo por ali. Sandy Dearborn, que fora o melhor amigo de Curtis, percebe que esta é a forma que o garoto encontrou para sentir-se próximo do pai, e acaba por admiti-lo na família. Até que um dia, Ned descobre, escondido no galpão B, o velho Buick. Vinte anos depois, o mesmo mistério que tomou conta de seu pai agora também toma conta dele, que também quer respostas. O segredo mais bem guardado da polícia da Pensilvânia começa a despertar não somente nos corações e mentes dos policiais veteranos, mas também dentro do galpão B.



Apesar de partir de uma premissa simples, King consegue contar a história de maneira espetacular, envolvente, e usando aquele tom narrativo que lhe é tão peculiar. Um detalhe bem interessante aqui é a alternância que ocorre entre a pessoa narradora: hora em primeira pessoa, hora em terceira pessoa, ainda assim incapaz de confundir o leitor. Foi a primeira vez que vi o uso de tal recurso, e achei simplesmente genial.



No decorrer da leitura pude perceber, de maneira bem sutil, uma pequena homenagem a H. P. Lovecraft. O final do livro foge um pouco do padrão de King (ao menos, do que dizem), e conseguiu dar o desfecho perfeito para a história.



Buick 8, no fundo, é um romance sobre o fascínio que todos temos pelo sobrenatural, e, indo além, da nossa eterna busca por respostas. Um romance que não assusta, mas que não deixa de causar fascínio.





Ficha Técnica:



Stephen King, 2002
Título Original: From a Buick 8
Editora Objetiva
Luiz poleto, 13 de Junho de 2008